O Outro Lado do Abismo - Capítulo 1, Parte 3
Nesse momento de total e absoluto vazio uma imagem familiar surgiu na sua mente, mais nítida e clara do que nunca: Uma rua longa e estreita, ladeada por prédios antigos, todos muito parecidos e partilhando o mesmo aspecto decadente, e ao fundo, visível apenas entre uma floresta de antenas e telhados de telha, um rio largo brilhando com o reflexo do Sol. Mas algo não estava certo. Não conseguia distinguir as pessoas nem os veículos que passavam por si, apenas borrões de cor e de luz, como se estivesse a meio de uma viagem de montanha-russa e à sua volta o mundo desfilasse cada vez mais depressa. Mas então, de súbito, a viagem terminou e Pedro encontrou-se numa pequena praia de areia escura com o rio a seus pés, rodeado pelos milhares de luzes que pontilhavam as margens agora que Sol desaparecera no horizonte e fora substituído no céu pela a lua cheia.
E enquanto observava, como que hipnotizado, os reflexos pratedos do luar nas águas do rio, Pedro ouviu pela primeira vez aquela voz. Subtilmente ao início, mas depois com insistência, uma voz fria e desprovida de emoção inundou a sua mente e os seus sentidos, num crescendo de som que rapidamente se tornou insuportável. O som parecia brotar do próprio ar e tornou-se tão ensurdecedor que o seu próprio corpo parecia vibrar ao seu ritmo. Em agonia, cambaleou em direcção ao rio e caiu de joelhos na água gelada, tentando em vão abafar a maldita voz com as mãos. Acto contínuo, as águas agitaram-se diante dos seus olhos e duas enormes colunas negras ergueram-se do rio, ao mesmo tempo que a voz rugia dentro da sua mente. CONSEGUES VER? No céu, a lua tornara-se vermelha e cobria o mundo num véu de luz doentia. CONSEGUES ENTENDER? Um rio cor de sangue corria agora à sua volta e as duas enormes colunas pareciam prestes a esmagá-lo. CONSEGUES COMPREENDER? A sua cabeça ameaçava rebentar de dor com cada nova palavra e todos os ossos do seu corpo pareciam prestes a desintegrar-se. TU NÃO MERECES! ... não ... aguento ... mais ... TU NÃO MERECES!!! Com um grito estrangulado de desespero, o mundo de Pedro explodiu num clarão branco.
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