sábado, 6 de agosto de 2005

Lembrar Hiroshima

Na manhã de 6 de Agosto de 1945, os habitantes de Hiroshima dirigiam-se para o trabalho quando pelas 7:31 foi desencadeado o sinal de ataque aéreo. Cansados da guerra e já habituados os bombardeamentos constantes levados a cabo pelas forças norte-americanas, poucos correram a refugiar-se nos abrigos. Pelas 7:53 soou o sinal de fim de ataque aéreo sem que nenhum ataque se tivesse dado e muitos respiraram de alívio, ignorando que muito acima deles o pequeno avião de reconhecimento que despoletara o alarme havia emitido a mensagem que os condenara à morte.

Quando o sinal de ataque aéreo voltou a soar, era já muito tarde. Às 8:15 da manhã, a cerca de 10km de altitude, a “Little Boy” abandonou o porão do bombardeiro “Enola Gay”. 51 Segundos depois, a 244 metros do solo, um segundo sol brilhou no céu e o mundo mudou para sempre.

A explosão provocou um clarão 12 vezes mais forte que a luz do sol e atingiu os 5,5 milhões de graus centígrados na parte central da cidade. A nuvem de escombros em forma de cogumelo gerada pela explosão foi visível num raio de 550km. Uma chuva preta, oleosa e pesada, contaminada pelo urânio, caiu sobre a cidade contaminando o solo, o rio, os sobreviventes... as equipas médicas que chegavam ao que restava da cidade nada podiam fazer: apenas tinham mercurocromo para tratar queimaduras terríveis. Estima-se que 80 mil pessoas tenham morrido instantaneamente, e que mais 140 mil tenham sucumbido nos dias seguintes.

3 Dias mais tarde era Kokura que estava condenada a sofrer igual sorte às mãos de uma bomba ainda mais poderosa, mas as condições atmosféricas não permitiram o lançamento e foi Nagasaki, o alvo alternativo, que foi atingida. Quis o destino que desta vez o lançamento não corresse como previsto e a bomba desviou-se do alvo, estatelando-se numa montanha; a cidade foi resguardada pelo terreno montanhoso e a explosão causou menos mortos do que a de Hiroshima. O lançamento da bomba sobre Nagasaki apenas foi conhecido três dias depois: os norte-americanos tentaram ocultar este segundo ataque.

Nunca se saberá ao certo quantas pessoas morreram devido à combinação das explosões, incêndios, calor e radiação libertada, e ainda hoje muitos milhares de pessoas continuam a sofrer os efeitos da contaminação radioactiva. Albert Einstein e Julius Robert Oppenheimer, dois dos mais brilhantes cientistas ligados à criação da bomba, viriam a penitenciar-se até ao fim das suas vidas pela sua participação no projecto.

Sessenta anos depois, é irónico constatar que a arma mais devastadora alguma vez criada pelo homem foi responsável pelo maior período de relativa paz mundial na história. Talvez isso não seja surpreendente. O mundo percebeu que a próxima grande guerra será com certeza a última. É por isso que a memória de Hiroshima e Nagasaki não pode ser esquecida; porque no dia em que isso acontecer teremos condenado toda a humanidade.

I am become death, the destroyer of worlds.”
(Julius Robert Oppenheimer)

1 Comentário(s):

Anónimo disse...

Gostei da forma como vc falou sobre esse assunto tão dolorido pra humanidade.

Sempre que leio sobre Hiroshima e Nagasaky me emociono e vc fez isso sem ser piegas.

Teu jeito de escrever é muito firme e claro...

Parabéns!