Já vos falei aqui um pouco da terra do meu pai. Pois bem, há coisa de três semanas foi atingida por um grande incêndio. Não houve vítimas, nenhuma casa ardeu, mas a área afectada foi muito grande. Evitei durante algum tempo lá ir e tentei não pensar nisso, mas por fim fui ver pelos meus próprios olhos os danos.
Logo pela manhã dirigi-me ao vale mais próximo, que conhecia como se fosse a palma da minha mão, com esperança de que não tivesse sido tão mau como havia ouvido. Mas era. Logo à saída da aldeia tive dificuldade em reconhecer os caminhos que tantas vezes percorrera desde pequeno. Aqui e ali, pequenas zonas de um verde mortiço ainda espreitavam; tudo o mais estava chamuscado, queimado, partido, ... irreconhecível.
Comecei a sentir um aperto no peito mas decidi seguir em frente, tentando ignorar o cheiro acre a queimado que me começava a afectar os olhos e a garganta. Poucos minutos depois, do cimo de uma colina próxima, vinha a confirmaçãos da catástrofe. Diante de mim estava no centro da área ardida; chão coberto de cinza; pedras calcinadas espreitando aqui e ali; troncos queimados formando uma floresta de palitos negros até onda a vista alcançava; nenhum som para além do uivo do vento.
O coração caiu-me aos pés. Quis chorar. Quis gritar. Mas não consegui. Limitei-me a contemplar em silêncio aquele quadro dantesco, esmagado pela sensação de impotência que tomou conta de mim. Senti que parte de mim ardera também.
Um dia aquelas matas vão-se regenerar e voltar a ser verdes de novo, mas para mim nunca mais será o mesmo porque não mais me trarão memórias do que lá vivi. Suponho que tenha de aceitar isso ...
... por muito que me custe.
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