segunda-feira, 8 de agosto de 2005

Cinzas e Fumo

Já vos falei aqui um pouco da terra do meu pai. Pois bem, há coisa de três semanas foi atingida por um grande incêndio. Não houve vítimas, nenhuma casa ardeu, mas a área afectada foi muito grande. Evitei durante algum tempo lá ir e tentei não pensar nisso, mas por fim fui ver pelos meus próprios olhos os danos.

Logo pela manhã dirigi-me ao vale mais próximo, que conhecia como se fosse a palma da minha mão, com esperança de que não tivesse sido tão mau como havia ouvido. Mas era. Logo à saída da aldeia tive dificuldade em reconhecer os caminhos que tantas vezes percorrera desde pequeno. Aqui e ali, pequenas zonas de um verde mortiço ainda espreitavam; tudo o mais estava chamuscado, queimado, partido, ... irreconhecível.

Comecei a sentir um aperto no peito mas decidi seguir em frente, tentando ignorar o cheiro acre a queimado que me começava a afectar os olhos e a garganta. Poucos minutos depois, do cimo de uma colina próxima, vinha a confirmaçãos da catástrofe. Diante de mim estava no centro da área ardida; chão coberto de cinza; pedras calcinadas espreitando aqui e ali; troncos queimados formando uma floresta de palitos negros até onda a vista alcançava; nenhum som para além do uivo do vento.

O coração caiu-me aos pés. Quis chorar. Quis gritar. Mas não consegui. Limitei-me a contemplar em silêncio aquele quadro dantesco, esmagado pela sensação de impotência que tomou conta de mim. Senti que parte de mim ardera também.

Um dia aquelas matas vão-se regenerar e voltar a ser verdes de novo, mas para mim nunca mais será o mesmo porque não mais me trarão memórias do que lá vivi. Suponho que tenha de aceitar isso ...

... por muito que me custe.

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