segunda-feira, 15 de maio de 2006

O Outro Lado do Abismo - Prólogo

Prólogo

Pedro nunca foi muito aberto ao mundo em seu redor. Desde muito jovem que se revelava mais à vontade precisamente quando estava sozinho e nunca demonstrou grande interesse na sociedade à sua volta. Nunca formou laços emocionais ou sentimentais e na verdade as pessoas em seu redor pareciam ter tanta vontade em evitá-lo quanto ele em evitá-las. E assim cresceu em corpo e mente mas não em espírito, sempre manietado naquilo que o torna verdadeiramente humano, a convivência com os outros.

Os anos passaram e enfim a necessidade que todo o ser humano tem de se relacionar e ligar ao mundo à sua volta fez-se sentir no seu espírito. Desejava ardentemente as experiências que vêm com a amizade e com o amor, mas não sabia como se aproximar nem como se comportar juntos dos outros. Na adolescência, uma fase da vida em que a afirmação pessoal é tão importante, ele não conseguiu impor-se e viu-se novamente sozinho e desligado do mundo que o rodeava, desta vez não por vontade própria. E percebeu enfim o significado da palavra solidão.

Com a entrada no mundo universitário abriu-se diante dele um novo mundo de possibilidades, uma oportunidade para começar do zero. E de tudo quanto procurava encontrar, aquilo que mais desejava era o amor; encontrou-o numa rapariga chamada Suzana que se tornou sua na melhor amiga, companheira, confidente ... e amante? Não; por muito que ele a amasse as suas limitações relacionais falaram mais alto e escolheu colocá-la num pedestal e venerá-la ao invés de amá-la como ela queria e merecia. E Suzana, como livre espírito que era, foi vencida pela vontade de viver novas aventuras e trocou-o por outro. Pedro sentiu no seu coração o que era a traição e o vazio que fica dentro de nós e pela primeira vez chorou por alguém.

Foi assim que aquele que Pedro considerava ser o seu único elo de ligação ao mundo foi quebrado, e não tardou muito para que a sua reputação de reservado e pouco sociável se degradar rapidamente para solitário e anti-social. Na verdade, longe de se isolar no seu mundo, passava cada vez mais tempo na companhia de outros; outros que não eram os seus colegas de faculdade, nem os seus poucos amigos, nem a sua família, nem ninguém que realmente se importasse com ele. Pedro caminhava em direcção ao abismo e dificilmente teria acreditado se lho tivessem dito; mas ninguém lho disse e ele também não se apercebeu até ser já tarde demais …

Postagem Seguinte: Cap.1 - Sinais de Vida (Parte 1)

2 Comentário(s):

Gato das Botas disse...

Tudo começou por um post que foi ficando cada vez mais longo, mas depois tive a ideia de fazer algo mais e começar uma história mais elaborada que irei postando capitulo a capítulo. Vamos ver como me consigo sair. Espero que gostem!

Gato das Botas disse...

Depois de longa ausência, decidi tentar voltar a pegar na história e percebi que o prólogo não introduzia a história como eu queria, ou pelo menos não como eu a vejo agora. Aqui fica o prólogo revisto e aumentado, e se tudo correr bem vou tentar recomeçar a postar pouco a pouco.